quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Eu

Eu.

Eu...


Eu?


Eu?


Eu.


Eu...


Eu!


Eu!


Eu.


Eu...


Eu?


Eu!


Eu?!


Eu;


Eu. (...)


Eu no meu momento sou o melhor que eu sou, sendo.





Samuel Silva


Samuel Silva é aluno do 4ºperíodo de Filosofia da UFSJ.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pãoesia

o pão há muito guardado - já mofo -
não se mostra impróprio à fome.
a palavra que enche a boca,
o veludo que se mostra à língua.
o pão há muito guardado - já mofo -
faz fermentar a palavra, crescer a poesia.
quando a palavra queda na boca vazia
o que fica misturado: sal e trigo mofado.
o pão há muito guardado - já mofo -
desagrada o frescor da saliva.
quando a palavra queda na boca estanque
o que fica parado: o verbo não conjugado.
*alison ferreira oliveira

Graduando do 5º período do curso de Filosofia da Universidade Federal de São João Del Rei

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Messias

Nós fomos mal acostumado desde criança a esperar um Messias. As meninas doutrinadas pelos contos de fadas - com príncipes encantados e essa coisa toda. Os meninos com o Superman, Pelé, e salvadores de todo tipo. Então o tempo passa, a gente cresce, e essa coisa fica fervilhando no inconsciente, como uma necessidade suspensa, latente; mas sempre vêm a tona quando alguma coisa dá errado. A religião reforça essa crença todo tempo, e quem se converte acaba perfilado numa catedral da Igreja enchendo os bolsos de pastores dissimulados, ou padres hipócritas. A medicina também dá sua dose de compensação, pois há quem encontre o Messias em anti-depressivos e tranqüilizantes. Bom, quem não se dobra por essas compensações acaba reprimindo os fracassos, e vivendo num mundo só seu, numa bolha irreal onde tudo funciona, mas esse mundo de sonhos é meramente representativo, uma ilustração subjetiva da realidade... No fim das contas, a gente quer aquilo que nos ensinaram a querer, aquilo que nos educaram a desejar: alguém pra passar a mão na nossa cabeça, alguém que aceita nossas faltas, alguém que ignora nossa chatice e egoísmo, enfim, um Messias. É fato que tem gente que encontra isso no amor, mas em troca, tem que ser o Messias do Outro. Fardo pesado, diga-se de passagem, pra quem só queria um pouco de paz...

Marcos Vinícius*
*Reside em Luminárias, funcionário público e Graduando em Filosofia pelo UNIS/MG, contista laureado no III Concurso de Contos da UFSJ http://prosacom.blogspot.com/

História de uma sombra

“Podem as coisas originar-se do seu contrário?”

Sim. A sombra surge da luz. Mais que isso; a sombra, além de surgir com a luz, se finda com o fim desta e a acompanha aonde quer que ela vá. Entretanto, somente a luz não basta para que haja sombra; é preciso que exista algo a ser iluminado – surge, então, o objeto. Luz e objeto são, portanto, as premissas da sombra. O que tem luz própria ilumina a si próprio de dentro para fora. De seu brilho interior faz-se uma sombra exterior, de maneira tal que o vulto torna-se a manifestação da luz na realidade, sendo sua única parte visível.
Sendo assim, veem-lhe apenas a sombra e nela creem. Platão dir-lhes-ia que estão todos na caverna, mas, caridoso que é, quebraria suas cadeias e conduzi-los-ia à saída pelo caminho mais curto, convidando-os a contemplar a luz que é responsável por gerar a sombra. Há, no entanto, uma impossibilidade física nisso. Não que os vossos olhos ardessem ofuscados ante a luz a qual não estavam acostumados, mas a própria tentativa de se ver a luz sem a sombra pelo lado externo é, em si mesma, a mais completa parvoíce, pois a obscuridade da sombra recobre a luz que a criou, além de ser impossível eliminar a sombra sem se retirar uma de suas necessárias premissas (luz e objeto) – a tríade forma, assim, um todo indissoluto. Ademais, a sombra é, de fato, bastante crível: – ela bebe, ri, pula, dança, fala merda e toma toco das mocinhas. Tem muitos amigos, é a companhia ideal – mas só para aqueles que não a conhecem como sombra.
Aquele que conhece a sombra como sendo sombra – assim como Platão – geralmente a calunia por não ser luz, ou por ocultar a luz, furtando-lhe o direito à presença. Mas quem daria ouvidos a semelhante asneira quando, na verdade, ocorre justamente o contrário? “É pela sombra que se chega à luz!”, grita o sensato, que enxerga o lume que está subentendido nas trevas, porque a sombra pressupõe a luz e vice-versa. A sombra, que como o oráculo de Éfeso, nada diz nem oculta, mas dá sinais, assinala a presença de sua luz, que não pode ser vista, mas apenas pressentida pela presença da sombra.
A luz vive de sua sombra, porque não pode suportar a si mesma. E quando suceder da luz inverter seu eixo de direção, iluminando a si de fora para dentro, produzirá, como num jogo de espelhos, uma luz sem sombras, tão insuportável à própria vista, tão intensamente dolorosa, que só restará a ela implorar: “Mais uma máscara! Uma segunda máscara!...”.

Assim falava uma sombra.
Carlos Artur*
*membro do grupo PET-Filosofia da UFSJ, graduando do 1º período de Filosofia